terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Consideraria minha vida um detestável vai-e-vem pois videei, por assim dizer, uma trilha de trem sem fim: Sem previsão de quando, mas a certeza que chegará. Certeza de uma exaltada agitação. Como? Eis minha nota para o dia de hoje: Oito. E a de ontem: 80 Amanhã: Oito ou 80, tanto faz. Pois há, amável leitor, um período em que tudo ocorre bem, em sua plenitude perfeição... Se retirasse o tudo, claro: dar-me medo. Deixa-me assustada. “Há algo errado, o que está por vir?” É tão grande pra ser verdade, em um mundo tão pequeno. Ou -a pior parte- quando não sobra um único fortalecimento para aguentar-se os males. Deixa-me angustiada. E dói. Dói. Esta é a porção de um todo que mais teima em permanecer por maior intervalo de tempo sendo ele, indeterminado. Pergunto-me: Quando, então, sou feliz? Inteiramente, em um equilíbrio estável. Sou muito nova pra isso.


A água quente que se dispersava por entre os meus recém-feridos pulsos fazia doer aquela ferida não cicatrizada, lá dentro... Naquele momento, meus olhos falhos e cansados devem ter expelido algumas lágrimas quando face àquela memória, duas noites atrás, apesar de eu não poder ser precisa quanto a este pequeno detalhe. Agora dói. Eu nem me lembro da lua. O sentimento que me abordara era de profundo desespero; era quase ridículo. O que foram quase seis meses de lucidez para acabar enfiando os meus pulsos em uma lâmina de gilete. Quisera eu a faca de cozinha possuísse suficiente potencia para penetrar e rasgar minha pele, com tal facilidade fatiara os alimentos que eu consumia. Ela nem ao menos mostrou-se suficientemente afiada para ferir-me o dedo, quando testei tua lâmina arranhada. Por um momento, senti falta do meu estilete. Talvez a lamina, que começava a enferrujar naquela época e agora provavelmente estaria enferrujada por completo, conseguisse atingir ao menos um pouco mais fundo. Só um pouco, uma veia ou duas. Tomando as proporções, em dezenove cortes alguma coisa, ao menos, teria de ser atingida... 
Eu escutei esta música por muitas vezes, neste intervalo de tempo. Meu nome deveria ser alterado. Eu desativei todos os meus aplicativos para aparentar perfeita consciência. Você disse que eu parecia bem. Você é apenas uma pessoa com muitos problemas, e eu nem ao menos posso te ajudar. Em controvérsia, eu lhe machuco. Por que homens matam as coisas que amam, pequeno Jack. Tão doloroso quanto pode ser. Em minhas mil faces, eu pedi por desculpas. Mas elas não foram altas o suficiente para que fossem audíveis. Assim como as lágrimas, naquela outra noite, enquanto eu escondia cicatrizes passadas por de baixo da minha luva cor de negrume. Eu compartilhei contigo todas as coisas que me ferem. 
E me senti inumana quando ouvi a tua versão da história. A humanidade é podre e este cheiro exala por todos os seus poros, em todos os lugares. Ainda tão longe, eu posso sentir os fantasmas que lhe perseguem... Eu queria ser hábil a desferir uma palavra de consolo. Agora, só nos resta buscar por reis, rainhas e canções sobre castelos. Estar sozinho não é assim, tão pavoroso. Eu tento salvar a tua vida, por algumas vezes, apenas para realizar que não consigo nem ao menos dar conta da minha.




Consideraria minha vida um detestável vai-e-vem pois videei, por assim dizer, uma trilha de trem sem fim: Sem previsão de quando, mas a certeza que chegará. Certeza de uma exaltada agitação. Como? Eis minha nota para o dia de hoje: Oito. E a de ontem: 80 Amanhã: Oito ou 80, tanto faz. Pois há, amável leitor, um período em que tudo ocorre bem, em sua plenitude perfeição... Se retirasse o tudo, claro: dar-me medo. Deixa-me assustada. “Há algo errado, o que está por vir?” É tão grande pra ser verdade, em um mundo tão pequeno. Ou -a pior parte- quando não sobra um único fortalecimento para aguentar-se os males. Deixa-me angustiada. E dói. Dói. Esta é a porção de um todo que mais teima em permanecer por maior intervalo de tempo sendo ele, indeterminado. Pergunto-me: Quando, então, sou feliz? Inteiramente, em um equilíbrio estável. Sou muito nova pra isso.
Dois corpos ardem em chamas ao sentir tão próxima presença. Hesitam subitamente, pois não podem saciar este desejo. Não se permite, na verdade, nutrir este sentimento em conjunto, apesar de se amarem. Amar sem razão, sem pensar que há fim... e não há! Estarão sempre juntos, mas não perto um do outro. Não sabem por que, mas o fazem, pois se amam o suficiente para não permitir que o sentimento se afogue. Quando sua faísca virou fogo? E quando o seu calor virou desejo?

Thoughts Distant

Ela abriu os olhos lentamente, sentindo o ar preencher seus pulmões. Já havia perdido a conta de quanto tempo estava deitada naquele sofá empoeirado. Reunindo todas suas forças, levantou-se. Seguiu até o banheiro. No espelho, seu reflexo. Os cabelos claros, despenteados. A pele alva, com grandes marcas arroxeadas abaixo dos olhos vermelhos de cansaço ou mesmo de choro. Quem era aquela? Ela se perguntava constantemente. Não se reconhecia mais. Já não conseguia lembrar ao menos como era se sentir realmente viva. Não tinha mais forças para nada, era como se ela estivesse morta. Lavou o rosto, enxugando com as próprias mãos. Foi até o seu quarto, onde o encontrou da mesma forma que havia deixado. Os lençóis bagunçados, as janelas fechadas, o porta-retrato atirado em um canto. O porta-retrato que ela havia ganhado dele. 
Deitou-se sentindo que aquela seria mais uma noite a qual passaria acordada, batalhando para que os maus sonhos a abandonassem, assim como ele, o amor de sua vida, havia feito. Lembrou-se de algumas coisas do passado e com os pensamentos vieram as lágrimas que não eram novidade a essa altura. Lembrou-se das palavras que ouviu de sua mãe e que vinha repetindo para si mesma nas últimas noites: Toda espera tem seu fim. Uma hora aquela dor e sofrimento iriam cessar e ela voltaria a ver seu reflexo no espelho. Mas desta vez, seria melhor que no passado, diferente do presente. Seria uma nova mulher, uma mulher que venceu a abstinência que era viver sem amor.